terça-feira, 5 de setembro de 2017

Memórias de Benjamin Péret

Para o Marcel Noll.

Um urso estava a comer seios
O canapé comido o urso vomitou os seios
Dos seios saiu uma vaca
A vaca mijou gatos a potes
Os gatos fizeram uma escada
A vaca escalou o gatafunho
Os gatos não ficaram atrás
Em cima a escada partiu-se
A escada tornou-se um carteiro fecundo
A vaca caiu nas mãos de um juiz
Os gatos cantaram p'ra os soldados sonharem
e do resto fez-se um diário p'ra as donzelas de esperanças


Benjamin Péret

domingo, 3 de setembro de 2017

Nuvem

Cai casinha doce
os f'ridos 'stão longe
as plantas 'stão mortas
e os doentes mal conseguem respirar


Benjamin Péret

Retrato de Max Ernst

Andam longe os teus pés
a última vez que os vi
estavam montados num cavalo-égua
que era mole que era mole
demasiado mole para ser honesto
demasiado honesto para ser verdade

O cavalo com maior verdade
só é jovem por um instante
mas tu
tu reapareces-me
nas ruas do céu
nas patas das lagostas
nas invenções selvagens


Benjamin Péret

domingo, 2 de abril de 2017

Nota Três

A minha versão do poema "Jabberwocky" (post anterior) não é o resultado de uma criatividade delirante enquanto tradutor, mas baseou-se, delirantemente, nos comentários ao texto disponibilizados pelo próprio Lewis Carroll e pelo seu personagem Humpty Dumpty. Comentários que, de resto, devem tanto ao nonsense quanto o poema que comentam.

Foram também consultadas as anotações fornecidas por Martin Gardner e Hugh Haughton nas edições de "Through the looking glass and what Alice found there" que cada um coordenou.


sábado, 11 de março de 2017

Algaravieida

Grelhia o dia: os tão pegagilosos
Xugos desenrolhavam a girelva,
E davam-se ao caprojo os papagosos,
E os ratudos abriam goelva.

“Cuidado com o Algaraviomo, filho!
O perigo da garra e da bocarra!
Cuidado co’ o Alginol ou o sarilho
Do furigante Bandagarra!”

El’ tomou a vorpal espada em mãos;
Incansável, buscou o inimigento –
À sombra de um Tanteiro então parou
P’ra organizar o pensamento.

E enquanto em pensamento el’ se iritava,
O Algaraviomo, de olhos incendidos,
Surgiu lufando pela inchante mata,
Um borbulhar de mil sentidos!

Mete e tira e repete, tira e mete!
Essa espada vorpal foi zastrasante!
Deu ao moço a cabeça do seu monstro:
Oh! El’ voltou tão galunfante!

“Matastes vós então o Algaraviomo?
Vinde a meus braços, raio de um rapaz!
Que dia frabuliz! Calurra! Liva!”
Resfolerriu agora em paz.

Grelhia o dia: os tão pegagilosos
Xugos desenrolhavam a girelva,
E davam-se ao caprojo os papagosos,
E os ratudos abriam goelva.


Lewis Carroll