sábado, 13 de abril de 2019

Os odores do amor

Se um prazer acaso existe
será certamente o de fazer amor
tendo o corpo atado com cordas
e os olhos fechados por lâminas de barbear

Ela aproxima-se como uma lanterna
O seu olhar precede-a e prepara o terreno
As moscas expiram como um belo fim de tarde
Um banco vai à falência
desencadeando uma guerra de dentes e de unhas

As suas mãos perturbam a omeleta do céu
fulminam o voo desesperado das corujas
e fazem cair um deus do seu poleiro

Ela aproxima-se a bem amada com seios de limão
Perdem-se os seus pés pelos telhados
Que doido automóvel
sobe do fundo do seu peito
Gira aflora e mergulha
como um monstro marinho

É o instante que os vegetais escolheram
para sair da órbita do solo
Sobem como uma aclamação
Sente-los sente-los
agora que a frescura
dissolve os teus ossos e cabelos
E não sentes também que esta planta mágica
dá aos teus olhos um olhar de mão
sangrenta
radiosa
Sei que o sol
longínqua poeira
rebenta como um fruto maduro
se os teus rins rodarem e balançarem
na tempestade que desejas
Mas que interessa às nossas iniciais misturadas
o deslizamento subterrâneo das existências impercetíveis
é meio-dia


Benjamin Péret

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