segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Soneto 116

Não serei eu a ver em sério enlace
Estorvo algum. Amor não era amor
Se, achando alteração, el' se alterasse,
Ou desertasse atrás do desertor.
Oh não!, ele é tão fixo quanto o marco
Que assiste inabalado à tempestade;
É a estrela traçando um rumo ao barco
Que lhe mede a altitude e mais não sabe.
Pode o Tempo ir ceifando a face ufana,
Nem assim faz do amor o seu truão;
O amor não muda à hora ou à semana,
O fim do mundo é a sua obstinação. 
     Se sobre isto a poesia se enganou,
     Nunca escrevi, ninguém jamais amou.


William Shakespeare

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