quinta-feira, 14 de maio de 2020

Soneto 73

A estação podes ver em mim na qual
Algumas, ou nem tantas, folhas louras
Tremem de frio em nua catedral
Onde aves já pousaram tão canoras.
Em mim vês o crepúsculo do dia
Quando este no ocidente se desfaz,
Que a negra noite aos poucos distancia,
Outra morte, que tudo sela em paz.
Em mim vês a candência da fogueira
Deitada sobre cinzas pueris,
Deitada sobre cama derradeira
Emanando do seu berço nutriz.
    Isto que vês faz teu amor mais forte,
    Melhor se ama o que perto está da morte.


William Shakespeare 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Soneto 60

Como ondas demandando a beira-mar,
Nossos minutos correm p'ra o seu fim,
Do anterior cada um toma o lugar,
Sempre em frente, sequência em frenesim.
Do berço, que foi pélago de luz,
Até madura c'roa se gatinha,
Mas tal glória um eclipse vil reduz,
Se o Tempo deu, seu dom ora amesquinha.
O Tempo arranca as flor's da adolescência,
Com paralelas sulca as belas faces,
À Natureza come a excelência,
Todos são de tal foice os desenlaces:
    Creio, porém, que os versos ficarão,
    Louvando-te contra essa dura mão.


William Shakespeare