sábado, 24 de junho de 2023

O Amor e o Crânio

Velha vinheta traseira

No crânio da Humanidade
     'stá sentado o Amor,
E o profano, em tal majestade,
     Rindo sem pudor,

Sopra, co' esse humor nada sério,
     Bolhinhas para o ar,
Como se ao mais fundo do etéreo
     As pudesse dar.

Globos brilhantes, delicados,
     Rompendo após voo,
Cuspindo espíritos delgados
     Como sonhos de ouro.

O crânio vai erguendo a voz,
     Implorando assim:
- "Tal jogo risível, feroz,
     Quando terá fim?

Pois o que essa boca temida
     P'ra o ar arremessa
É o meu sangue, ó monstro homicida,
     É carne e cabeça!"

Charles Baudelaire 

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