quinta-feira, 27 de julho de 2023

A gigante

No tempo em que a Natura em seu estro pujante
Gerava a cada dia um rebento monstruoso,
Queria viver junto a uma moça gigante,
Como aos pés da rainha um gato voluptuoso.

Gostava, então, de a ver de alma e corpo a brotar,
A crescer sem travão num recreio horroroso;
De perceber na névoa que lhe embebe o olhar
Se seu coração choca um fogo tenebroso;

De com calma cruzar seus faustos multiformes;
De rastejar na encosta dos joelhos enormes,
E por vezes no estio, quando sóis suspeitos

A fazem, enfadada, estender-se na terra,
Dormir languidamente à sombra dos seus peitos,
Como um quedo povoado no pé de uma serra.

Charles Baudelaire

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