sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Nota 11

Embora regularmente leia textos escritos em inglês, francês ou castelhano, tenho de assumir (desde logo para mim mesmo) que aquelas frases, aqueles versos, que, no dizer de Kafka, quebraram o meu mar de gelo como se fossem machados, estavam escritos em português. Não eram necessariamente assinados por autores de língua portuguesa, mas estavam escritos nessa língua.

O meu papel como tradutor nada tem a ver com uma especial competência de decifração. Não domino nenhuma língua estrangeira de forma assim tão exemplar. Traduzo porque, a despeito do meu compromisso de fidelidade a um texto inglês ou francês, quero senti-lo como "texto" (como literatura) na minha própria língua. 

Nesta fase da minha vida em que já não consigo escrever poesia em meu nome (e, como o Cesariny, não luto contra isso), as minhas traduções são partilhadas com o sonho de poderem, talvez, para alguém, funcionar como atentados de comoção verbal.

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