Setembro, glorioso com ouro, qual rei
No brilho do triunfo ataviado,
Mais claro que o estio, mais doce que Abril,
Os bosques incuba com asa infinita,
Presença querida do humano.
As terras pintadas p’lo sol posto e nado
Sob quente sorriso sorriem;
Mais nobre que um templo por mão levantado,
Coluna a coluna, o santuário se apruma
Das naves sem fim dos pinhais.
Um culto eloquente, sem prece ou louvor,
O espírito ocupa com paz,
Preenchida co’o sopro do fúlgido ar,
O odor, os silêncios, as sombras tão claras
Quais raios crescendo e cedendo.
Pilar’s angulosos que coram longe e alto,
Com ramo nenhum para um ninho,
Sustêm o tecto sublime e cabal,
À prova do sol, do tufão, colossal,
Como águas paradas terrível.
Mão de homem jamais a sua altura mediu;
Razão também não, nem temor;
A trama do bosque em tal sombra é tecida;
O sol como um pássaro cai na armadilha,
E espalha, nevando, os seus flocos.
Plumagem só de ouro, tais flocos de sol
Repousam na terra aos montões,
Quais pétalas soltas de rosas sem c’roa
No chão da floresta sombrosa e dourada,
Corada tão perto e tão longe.
As mãos insondáveis de turvas idades
Ergueram o templo em retiro
P’ra deuses ignotos, e na ara queimaram
Os anos em pó, e a as areias que o frasco
Do tempo esqueceu como indício.
Um templo que em milhas calcula os transeptos,
Que tem como padre a manhã,
Que livra o seu chão do pisar dos ineptos,
Sua música é a música só dos silêncios,
Bem mais que espectác’lo é a festança.
Sucedem-se as horas litúrgicas, nunca
O ofício nos vela ou revela,
Nas rampas das terras sem flor’s nem verdura,
O encalço de um fauno, uma pista de ninfa
Até ao deus Pã em dormência.
O espírito, ateado p’lo pasmo e p’lo culto
Num êxtase sacro em braveza
Perante os tais rastos que fendem o rumo,
Só ele discerne se em torno dos quais
Existe uma prova do deus.
Com rubro temor mais profundo que o pânico
A mente rendida e inconcussa
Escuta a terrena e Titã divindade
Nos passos sentidos em brechas vulcânicas
De abismos já sem o seu lume.
Por artes mais calmas que as negras magias
Da morte, da noite e de antanho,
Que o vil frenesi que assombrava o mei’-dia
Onde o Etna se forma dos membros gigantes
De deuses sem trono e sem vida,
Nossa alma fundida co’ aquel’ cujo sopro
Sublima o mei’-dia do bosque
Suporta o fulgor da presença que fala
De coisas além, mais serenas que a morte,
De um Tempo que vence e que cala.
Algernon Charles Swinburne
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