Se o amor fosse o que é a rosa,
E eu tal como a folha fosse,
Medraríamos a par
Com pesar no clima ou júbilo,
Vento ou flor abrindo o solo,
Prazer verde ou parda dor;
Se o amor fosse o que é a rosa,
E eu tal como a folha fosse.
Fosse eu tal como as palavras,
E o amor como a cantiga,
Com som dual e um só deleite
Ligar-se-iam nossos lábios
Em felizes beijos de ave
Fresca à chuva do mei’-dia;
Fosse eu tal como as palavras,
E o amor como a cantiga.
Se, meu bem, fosses a vida,
E eu teu caro a morte a fosse,
Brilho e neve os dois seríamos
Até Março trazer graça
Com narcisos e estorninhos
E um sem-fim de fértil sopro;
Se, meu bem, fosses a vida,
E eu teu caro a morte fosse.
Se da mágoa fosses serva,
E eu um pajem para o gozo,
Toda a vida folgaríamos
Com olhinhos e traições,
Choros da alva e da noitinha,
Irrisões de moça e moço;
Se da mágoa fosses serva,
E eu um pajem para o gozo.
Se de Abril tu fosses lady,
E fosse eu um lorde em Maio,
Jogaríamos com folhas
E com flor’s empataríamos
Até ser sombrio o dia
E ao contrário a noite clara;
Se de Abril tu fosses lady,
E fosse eu um lorde em Maio.
Se reinasses no prazer,
E eu da dor fosse o monarca,
O amor ambos caçaríamos,
Seu voar depenaríamos
P’ra aos seus pés darmos um metro
E à sua boca rédea curta;
Se reinasses no prazer,
E eu da dor fosse o monarca.
Algernon Charles Swinburne
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