sábado, 25 de julho de 2020

Soneto 106

Quando noto em anais de tempo ido
A perfeição da gente lá descrita,
E o belo feito belo verso antigo
Louvando uma nobreza que é finita,
Nesses poemas nos quais se celebrava
A mão, o pé, a boca, o olho, a testa,
Sinto que a pena arcaica reclamava
A beleza que em ti é manifesta.
Foste pressagiado em tais louvores,
Do nosso tempo el's foram profecia;
Mas, se esse era um olhar de sonhadores,
Terás sido cantado com mestria?
    Hoje, já temos olhos p'ra admirar,
    E falta-nos a língua p'ra louvar.


William Shakespeare 

Sem comentários:

Enviar um comentário