sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Soneto 55

Monumentos a reis em mármor' e ouro
Não hão de viver mais que uma canção,
Tu brilharás melhor neste colosso
Que a pedra denegrida em duração.
Quando a guerra as estátuas devastar,
E erradicar a obra do alvanel,
Não terá Marte as armas p'ra queimar
Tua memória viva no papel.
Contra destruição e olvidamento
Avante irás; será teu louvor tal
Que del' todos terão conhecimento
Até que o mundo chegue ao seu final.
    Enquanto nenhum Juízo te levanta,
    Viverás nisto: em olhos de quem ama.


William Shakespeare 

sábado, 7 de dezembro de 2019

Soneto 53

Qual é tua substância, de que és feito,
Se por ti zelam mil estranhas sombras?
A uma sombra cada um está sujeito,
Mas tu, sendo um, em todas te prolongas.
Adónis se descreva, o arremedo
Pobremente te exibe copiado;
Em Helena se empregue todo o engenho,
E és tu que ornado à grega estás pintado.
Diga-se a primavera e a safra imensa:
Uma de teu encanto a sombra exala,
Outra é de teu favor uma presença;
E cada santa coisa te assinala.
    De toda a graça externa és um garante,
    Mas nada é como tu na alma constante.


William Shakespeare