sexta-feira, 4 de junho de 2021

Correspondências

No templo Natural, não há vivo pilar
Que não deixe escapar certa fala confusa;
Os símbolos dos bosques que todo o homem cruza
Vão lançando sobre ele um olhar familiar.

Como ecos que de longe se fundem em somas
Compondo uma profunda e medonha unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Correspondem-se as cores, os sons e os aromas.

Pode o aroma ser fresco como o da criança, 
Doce como um oboé, verde como a campina,
- Ou pode ser corrupto, rico, ter pujança

De coisa que se expande e que jamais declina,
Como o âmbar, o almíscar, o incenso, o benjoim,
Que cantam os sentidos e a alma em frenesim.


Charles Baudelaire