domingo, 13 de fevereiro de 2022

O convite à viagem

Minha irmã, criança,
Pensa na bonança
De irmos viver para ali!
Amar sem correr,
Amar e morrer
No país igual a ti!
Os sóis alagados
Desses céus toldados
Têm p'ra mim os encantos
Tão indefinidos
Dos olhos fingidos 
Que reluzem nos teus prantos. 

Lá, tudo é calma e rigor,
Prazer, beleza, esplendor.

Só móveis polidos
P'los tempos volvidos
Nosso quarto alegrariam;
As mais raras flores
Unindo os odores
Aos que no âmbar se anunciam,
Tetos carregados,
Espelhos cavados,
O requinte oriental,
Falaria tudo
Ao 'spírito mudo
Na doce língua natal.

Lá, tudo é calma e rigor,
Prazer, beleza, esplendor.

Nesses canais, nota
Que dorme uma frota
Cujo humor é vagabundo;
P'ra satisfazer
Teu menor querer
Ela vem do fim do mundo.
- Os sóis vesperais
Vestem os canais,
Os campos, o povoamento,
Com oiro e zircão;
Num quente clarão
Fica o mundo sonolento. 

Lá, tudo é calma e rigor, 
Prazer, beleza, esplendor.


Charles Baudelaire 

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