quinta-feira, 23 de agosto de 2018

De "Luz cinábrio" (4)


O ouro efémero da cena. A vertigem da consciência
ao saber-se consciência, ao tatear a orografia deste
silêncio, imóvel élitro, acaso do ritmo que me contempla.

Esquecido de mim, penetro nas regiões intermédias
do vale cerrado e desenho o trânsito da respiração,
a apneia da luz, a crista da perdiz cantora antes
das danças de namoro, as sementes aladas do ácer.

E porque me falo, posso fazer com que as coisas poisem no olho
do espírito, e ser contraluz e curvatura, sombra inerte
e água de baga, prega de riso: anel do invisível.

E porque me sonho, posso inventar-me um corpo para me ver,
eu que mal sou, no dorso de todas e cada uma das palavras.


Joan Navarro

Sem comentários:

Enviar um comentário