quinta-feira, 23 de agosto de 2018

De "Luz cinábrio" (7)


A mansidão das estrelas. O impercetível movimento
das pedras mudas. Os espinhos intactos que respiram nas
arestas do caule alado. Agora digo dor e cresce a casa silvestre
e os bois percorrem a lama sob a abóbada do céu. Os ácidos diáfanos
enchem os corpos de luz, as zonas embaciadas da vida.

Agora digo silêncio e estendo o meu corpo sobre a terra e olho
o avanço das nuvens, o voo da sua aritmética, o afã
fugitivo do instante que habitam, as hélices ocultas do vento.

Ao fim da tarde, as nebulosas pingam sobre o bosque e ardem
as pregas das palavras, o seu rastro, a raiz do peixe que
será outro peixe, constelação, noite partida, o branco ruído
do outono que chega enquanto, lentamente, se desfaz o caminho.


Joan Navarro

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