sexta-feira, 28 de maio de 2021

O albatroz

Muitas vezes, por gozo, os homens da equipagem
Prendem um albatroz, bicho marinho e largo
Que usa seguir, parceiro indolente de viagem,
O navio que voga pelo abismo amargo.

Mal o põem em cena no palco do chão,
Esse rei do Azul, inábil e acanhado,
Deixa cair as asas em lamentação,
Quais grandes remos brancos que arrasta ao seu lado.

O viajante dos ares perdeu a beleza!
Agora só faz rir, quem há pouco encantava!
Um mete-lhe no bico um cachimbo que o lesa,
Outro imita o defeito de um manco que voava!

Ao príncipe do céu, que do arqueiro se ria
E a tormenta assombrava, o Poeta é semelhante;
Exilado no solo, em plena zombaria,
Impedem-no de andar as asas de gigante.


Charles Baudelaire

Sem comentários:

Enviar um comentário