Embora regularmente leia textos escritos em inglês, francês ou castelhano, tenho de assumir (desde logo para mim mesmo) que aquelas frases, aqueles versos, que, no dizer de Kafka, quebraram o meu mar de gelo como se fossem machados, estavam escritos em português. Não eram necessariamente assinados por autores de língua portuguesa, mas estavam escritos nessa língua.
O meu papel como tradutor nada tem a ver com uma especial competência de decifração. Não domino nenhuma língua estrangeira de forma assim tão exemplar. Traduzo porque, a despeito do meu compromisso de fidelidade a um texto inglês ou francês, quero senti-lo como "texto" (como literatura) na minha própria língua.
Nesta fase da minha vida em que já não consigo escrever poesia em meu nome (e, como o Cesariny, não luto contra isso), as minhas traduções são partilhadas com o sonho de poderem, talvez, para alguém, funcionar como atentados de comoção verbal.
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