quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Spleen

Sou tal e qual o rei de um país pluvioso,
Rico, mas sem poder, jovem, porém idoso,
Que, p'las vénias dos aios mostrando desdém,
Com nenhum animal (nem com cães) se entretém.
Qualquer caça, falcão, não se alegra com nada,
Nem com povo a morrer diante da sacada.
Do bobo favorito a balada risível
Já não distrai o rosto do enfermo terrível;
Parece adorno em tumba a flor-de-lis do leito,
E às camareiras que acham todo o rei perfeito
Não lhes vale o impudor no modo de vestir
P'ra o jovem esqueleto fazerem sorrir.
Jamais o sábio que ouro faz terá logrado
De seu ser extirpar o elemento viciado,
E nos banhos de sangue herdados dos Romanos,
Dos quais se lembra o nobre quando entrado em anos,
Não soube reanimar esse pasmo que morre
E onde em lugar de sangue um verde Lete corre.

Charles Baudelaire

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