sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Festas da fome

.....Ana, ó Ana, a minha fome
.....Em cima da tua burra foge.

Já não tenho mais paladar
A não ser para terra e pedras.
Sempre que a barriga dá horas,
Comamos ferro, carvões, ar.

Minhas fomes, rodai, pastai
.....No farelório das pradarias!
E o veneno alegre aliciai
.....Dessas flores que são campainhas.

Comei
Calhaus por um pobre rachados,
As antigas pedras de igrejas,
Os seixos, de dilúvios nados,
Pães em cínzeos vales deitados!

Minhas fomes, bocados de ar negro;
.....É o firmamento sineiro;
- É o estômago que me demove.
.....É a má sorte.

Surgiram folhas sobre a terra:
Dou-me ao desfrute de um pomar velho.
Colho no seio de uma fenda
Alfaces de lobo e de cordeiro.

.....Ana, ó Ana! a minha fome
.....Em cima da tua burra foge.


Arthur Rimbaud

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