terça-feira, 30 de agosto de 2016

Na noite do adeus não entres em paz

Na noite do adeus não entres em paz,
Ser velho é arder em raiva ao fim do dia;
Ruge, ruge, é a luz que se desfaz.

Ao sábio, no termo, o escuro lhe apraz,
Mas como jamais o seu verbo fez chispa
Na noite do adeus não entra ele em paz.

O justo, lamentando as suas águas passadas
Em obras não dançadas numa verde baía,
Ruge, ruge, pois é a luz que se desfaz.

O bravo caçador e cantor do sol fugaz
Que só tarde percebe que fez elegia,
Na noite do adeus não entra ele em paz.

O sério, que quase só vê quando jaz
Que não ver pode ser meteoro de alegria,
Ruge, ruge, pois é a luz que se desfaz.

E tu, meu pai, desse auge amargo o ás,
Maldiz, bendiz-me, rogo, com teu pranto em ira.
Na noite do adeus não entres em paz.
Ruge, ruge, é a luz que se desfaz.


Dylan Thomas

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