sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Oração da tarde

Qual Anjo no barbeiro, sentado é que eu vivo:
Cerveja em copo cheio de estrias gritantes,
Até ao pescoço arqueado o hipogástrio, um cachimbo
Nos dentes cobre os céus de impalpáveis velames.

Como excrementos quentes de um velho pombal,
Mil Sonhos em mim fazem azias amenas;
Por instantes o meu coração terno é um samo
Que ensanguenta o ouro jovem e escuro das perdas.

Mal engulo os meus sonhos com aplicação,
Tendo bebido uns trinta ou quarenta canecos,
É a hora do retiro, da acre dejeção:

Doce como o Senhor da trave e dos argueiros,
Mijo para os céus pardos, em toda a extensão,
E os grandes heliotropos respondem ordeiros.


Arthur Rimbaud

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