terça-feira, 20 de setembro de 2016

Bétulas

Quando o vaivém das bétulas se afirma
Na rigidez escura que há no bosque,
Gosto de achar que é arte de um miúdo.
Se a tempestade as verga, sem retorno
O faz. Muitas vezes as terás visto
Carregadas de gelo após a chuva
Na manhã de inverno. Dão estalidos
Quando levanta a aragem, e o seu esmalte
É varado por cortes e por cores.
O sol então descasca em avalanche
Esse cristal sobre o manto de neve –
Tanto é o caco p’ra varrer que eu pergunto
Se a cúpula do céu terá caído…
Vergadas até ao feto murcho, elas
Parecem não quebrar, mas quando em baixo
Por muito tempo, não mais se endireitam:
Podes ver, anos depois, os seus troncos
Arqueados, quais raparigas de gatas
Secando ao sol os cabelos lançados
Para a frente, por cima das cabeças.
Mas antes da interrupção da Verdade
Com o prosaísmo da sua borrasca
Eu defendia a tese desse miúdo
Brincando enquanto conduzia as vacas –
Um miúdo alheio ao beisebol da vila,
Entretendo-se sozinho, de inverno
Ou de verão, com tudo o que encontrasse.
Domou, uma a uma, todas as árvores
Do seu pai, cavalgando-as tantas vezes
Que todas lhe entregaram a firmeza,
E nenhuma ficou por amaciar,
Nenhuma por vencer. Foi aprendendo
A não as lançar demasiado cedo
Pr’a evitar que fossem arrebatadas
Até ao chão. Mantinha um equilíbrio
Permanente até ao cimo, trepando
Com os mesmos cuidados com que tu
Desafias a borda de uma chávena.
Só então, sibilando, se lançava
Com o impulso dos pés até ao chão.
Também eu fiz das bétulas baloiço.
E a tal muito gostava de voltar.
Quando estou cheio de cogitações,
E a vida é como um bosque sem caminhos
Onde o rosto se aflige co’a coceira
Das teias de aranha, e um olho chora
Porque foi atingido por um galho.
Pudesse eu sair da terra um instante
E a seguir regressar em recomeço…
Não se arme o destino em sonso e me dê
Só metade do que peço, levando-me
Para não mais voltar. Pois só na terra
Há ‘spaço para o sucesso do amor.
Eu gostava de ir só até ao céu,
Subindo os ramos negros da brancura
De neve de uma bétula e descendo
Quanto, já no limite, ela cedesse.
Ir e vir no baloiço de uma bétula:
Há maneiras pior’s de se viver.


Robert Frost

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