quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Desígnio

Vi uma aranha com covinhas nas bochechas, branca,
Erguendo uma traça numa flor branca de erva-férrea
Como se erguesse uma toalha de cetim, branca e tesa –
Personagens reunidas num cenário de matança,
Combinadas (pois há que começar bem a manhã)
Num caldo que as bruxas por certo trariam p’ra a mesa –
Era uma aranha quase neve, e uma espuminha de erva,
E asas tão mortas como um papagaio de criança.

Por que razão essa flor ficou assim toda branca,
Ela, que é sempre azul, sempre inocente em seu decoro?
O que guiou a aranha e a traça em clara semelhança
P’la noite até à altura misteriosa de uma planta?
Nenhuma cor resiste a um desígnio tão tenebroso?
Se é que um desígnio rege algo tão pouco grandioso.


Robert Frost

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