quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Uma Arte

Na arte de perder não custa ter mão;
tantas coisas já trazem na sua mente
a perda que o perdê-las não é aflição.

Perde algo cada dia. Aceita a agitação
da chave omissa, da hora que nada acrescente.
Na arte de perder não custa ter mão.

Põe pressa e põe distância na ambição:
perde um lugar, um nome, um destino pendente
de viagem. Nada disso trará aflição.

Não sei do relógio da minha mãe. E tão-
-pouco impedi que uma das casas se perdesse.
Na arte de que falo não custa ter mão.

Perdi duas belas cidades. E, noutro escalão,
reinos que eu tinha, dois rios, um continente.
Fazem-me falta, mas não foi uma aflição.

Mesmo o perder-te (a voz jocosa, uma expressão
que eu amo) não me desdirá. É evidente
que na arte de perder não custa muito ter mão
mesmo se ela for como (Escreve-o!) uma aflição.


Elizabeth Bishop

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